– Querido, esse sapatinho de bebê não é lindo de viver? Pensei em comprar pro filhinho da Lívia.
– Concordo: lindo de morrer.
– De morrer, não. De viver!
– Lindo de viver não existe, meu amor.
– Ih, lá vem você!
– Eu me recuso a usar eufemismo de hipérbole. Ou é eufemismo ou é hipérbole. A pessoa tem que escolher.
– Não estou nem aí pra sua cartilha de português, sabichão.
– Entendo. Você prefere a cartilha da Hebe Camargo.
– Pensa um pouco: você acha que eu ia dar um sapatinho lindo de morrer para um bebê, uma pessoa que está começando a vida? Que tipo de mensagem eu estaria passando, hein?
– Está vendo? Agora você está morrendo de raiva de mim.
– Estou mesmo. Odeio esse seu lado pedante.
– E por que não diz que está vivendo de raiva?
– Não enche.
– Sabe por quê? Porque não faz o menor sentido, querida. Porque a ideia da hipérbole é justamente criar um absurdo que intensifique a mensagem, que dê colorido à expressão. Colorido às vezes até literal: azul de fome, verde de ciúme e tal. Se a ideia deixa de ser absurda para ser razoável, fofinha, a hipérbole perde o sentido. Quer dizer: esse sapatinho é tão lindo que você poderia morrer por ele.
– Não acho tão lindo assim. Não morreria por ele, nem perto disso. Vamos embora.
– Ei, não vai comprar?
– Desisti. Seu papo matou a beleza dele.
– Tudo bem.
– Às vezes você é tão chato que eu tenho vontade de cortar os pulsos, sabia?
– Parabéns, querida! Essa é a ideia!
Que delícia de “aula”!
Obrigado, Isabela!
Ela deve ser a TV Globo com o seu risco de vida, certo?
Como assim, João Batista?
Tenho essa dúvida, também:
“risco de morte” ou “risco de vida”?
Olá, Vanessa. Sua dúvida foi respondida aqui: http://melhordizendo.com/quadrinhas-risco-de-vida-ou-morte/
Apareça sempre! Um abraço.
Acho que o João está se referindo ao ‘risco de morte’. Hoje, pelo menos na TV, ninguém mais corre ‘risco de vida’.. rs