Nome é destino? A literatura gosta de imaginar que sim. Com esse nome o Voldemort de Harry Potter só poderia ser vilão, e pela mesma razão a Clarissa de Erico Verissimo não teria como fugir ao figurino de ótima moça.
Claro que na vida real tudo se complica. A variedade do mundo inclui Simplícios enrolados, Salgados dulcíssimos, Bravos covardes, Magnos insignificantes, Belas feiosas etc. Sim, o nome pode até trazer um recado com sinal invertido. Mas nem sempre.
Cunha é uma velha palavra portuguesa (século 14) vinda do latim cuneus, “peça triangular de rachar madeira”. No vocabulário militar, nomeia há milênios uma formação de ataque, com as tropas desenhando um triângulo.
O Houaiss traz uma segunda acepção militar: “em estratégia, recurso pelo qual um exército logra introduzir componentes de sua tropa em território e/ou em meio a unidades particularmente vulneráveis do inimigo”.
Da guerra para a política, que é a guerra sem canhões: em Portugal, cunha tem ainda o sentido informal de “recomendação de pessoa influente”. Meter uma cunha é arranjar um pistolão. De modo figurado, encontramos aí a mesma ideia de forçar passagem, abrir caminho na marra.
O que isso prova? Ora, nada. Mesmo porque Celso, o gramático, é tão Cunha quanto Eduardo, o político. Mas brincar com palavras não paga imposto nem dá cadeia. Ainda.