Os debates sobre questões de língua andam parecidos com um diálogo de surdos. De um lado, gritam os que defendem a gramática tradicional lusitana (muitas vezes sem sequer dominá-la), convencidos de que o mundo vai acabar da próxima vez que alguém escrever “Me chama” em vez de “Chama-me”. Do outro, esgoelam-se aqueles que se baseiam nos estudos linguísticos modernos para abrir fogo contra qualquer fumaça de certo e errado, beirando a esculhambação. Sem caretice e sem vale-tudo, Melhor dizendo entende os argumentos dos dois lados, mas reserva-se o direito de não morrer abraçado com nenhum deles. Aposta que é possível cultivar a variedade culta da língua – elegante, respeitosa das tradições sem ser subserviente ao passado ou aos queridos irmãos portugueses – e, ao mesmo tempo, compreender que todas as regras são historicamente determinadas, nenhuma delas caiu do céu, e que no fim das contas a língua é sempre atualizada por quem a fala, no momento em que a fala. A mesma aposta inclui o reconhecimento da grande beleza que existe nisso.